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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Do amor à dor




Conhecemo-nos na escola. Contava ela 19 anos e eu 16. A inexperiência da vida deixou-me cego e não pude perceber seu interesse por mim, pois eu era apaixonado por outra garota que conheci também na escola de colegial. Fomos apresentados por uma de suas primas e logo ficamos amigos. Em seu rosto não se percebia a tristeza em seu peito feito por um romance que não deu certo em sua vida. Era linda, tinha um olhar contagiante, voz cadenciada. Era morena, cabelos lisos e longos, estatura mediana. Engraçada? Nem tanto, mas era deveras fraterna. Nunca imaginara eu que era a partir dela que eu viveria momentos de imensas felicidades junto a uma pessoa que jamais esperava. Ela namorava um rapaz e eu, totalmente apaixonado por outra moça. Na verdade, esse fato serviu como base para a nossa aproximação. O tempo passou, e então, começaram os olhares, ela via em mim o sorriso de uma paixão que passara em sua vida. O garoto de 16 anos tinha o sorriso de um homem feito. Ela chamava-se... Bom, talvez o nome dela não importe. O leitor jamais deixará de compreender o desenrolar da história se não souber o seu nome. Quiçá mais adiante eu lhes diga sua graça. Sei que desse modo atiço tua curiosidade, mas peço que tenhas paciência, leitor! Cada coisa só poderá ser revelada no seu devido tempo. Lembro-me perfeitamente do ano. Quer dizer, nem tão perfeitamente assim. Acho que era por volta de 2001 ou 2002. Isso! Era por aí. Não passava disso. Tenho certeza. Ela tinha uma ótima forma de aproximação e a usou perfeitamente. Agora éramos amigos. Estudávamos juntos pelo menos duas ou três vezes por semana. Era fim de ano. As festas de final de ano sempre nos deixam mais cativáveis. Uma bela tarde, bom! não lembro o dia da semana, mas isso não é mais importante que o fato que desejo relatar. Tarde essa em que ouvindo uma música que também não sei qual, nem sei se era realmente uma música ou o ritmo de batidas dos nossos corações, aproximamo-nos um do outro, e, chegamos tão próximo que dava para escutar sua respiração. Estava um pouco ofegante. Nossos olhos entrelaçaram-se, e, repentinamente, ofereci-lhe um pouco de refresco. O dia estava demasiadamente quente, como é de praxe no Nordeste. Continuamos a conversa e agora sim! Nossos lábios tocaram-se como se naquele momento nada mais existisse. Sim, beijamo-nos. Um beijo doce, inesquecível, lento. Após o beijo veio o pedido de desculpas, pois ela ainda era comprometida. Um sentimento de culpa tomou conta do nosso ser, mas logo veio a gargalhada. No outro dia encontramo-nos à noite na escola e deixei-a em casa após as aulas. Sua mãe a aguardara na porta. Despedimo-nos rapidamente beijamo-nos outra vez. Esse segundo beijo foi ainda melhor que o primeiro, pois estávamos na iminência de sermos pegos por sua mãe. Que loucura! No dia seguinte, ainda conseguia sentir seus lábios e seu perfume no meu corpo. Jamais tirei aquele beijo dado ali, no portão de sua casa, de dentro de mim. Chegamos então ao mês de dezembro daquele ano. Encontramo-nos em uma festa de uma amiga nossa. A festa foi linda. Aniversário de quinze anos é tão emocionante como o primeiro beijo de um casal apaixonado. Agora, éramos quase namorados, ela tinha terminado seu relacionamento com o outro rapaz. Nunca houve pedidos de namoro. Nossos atos o fizeram por nós. Gostávamo-nos!  Agora que todos eram contra nosso relacionamento por causa da diferença de idade, gostávamo-nos crescente e indesejadamente. Tínhamos a nosso favor uma ou duas pessoas, infelizmente há preconceito em todos nós e esse preconceito vira-se contra nós às vezes. Lutamos. Sim, lutamos contra tudo e contra todos e nos sobressaímos, não entregamos nossa paixão. Seu coração já deixara de pensar no primeiro amor de sua vida. Pessoa que lhe enganara e a deixara sofrendo por uma mentira que não vale a pena que o leitor perda seu precioso tempo lendo as duas ou três páginas que eu precisaria para lhes detalhar o acontecido. Digo apenas que foi uma atitude canalha e egoísta de sua parte. E que eu a ajudei a superar. Digo ainda, que o fiz com a maestria de um homem que não era ainda.    Era nada mais que um garoto querendo ser homem feito. Mas, como? Não conhecia nada da vida. Começara a descobrir o mundo a partir de uma paixão avassaladora, desordenada. Não posso avançar esse conto sem retroceder ao mês de novembro, mês esse em que houve um fato de extrema importância em nossas vidas. O leitor não pode ser excluído de certos fatos, pois eles os darão a noção do tamanho de nossa paixão. Leitor amigo, você é quem fará a medição dessa paixão. Deixo-te encarregado dessa função, pois já não tenho mais força para fazê-lo.
                Era sábado, dia de finados, mas também dia de festa. Há alguns que preferem divertir-se a ir ao cemitério nesse dia. Cemitério lembra a morte, tristeza. Eu prefiro a tranqüilidade dos mortos à agitação infernal de certas festas. Foi nessa noite de finados que nos encontramos. Busquei-a em sua casa. Saímos e conversamos muito até que repentinamente um beijo quente como o sol, a aproximação dos dois corpos, o calor gerado por tanta paixão e o desejo ardente de dois jovens amantes terminou numa ação inesperada. Sim, leitor, meu grande confidente, você imagina bem. Amamo-nos. Amamo-nos como loucos. Não espere detalhes, pois eles só desviariam sua atenção. Falo apenas que foi uma noite de amor cinematográfico. O resto deixo para sua imaginação detalhar. Sei que você tem capacidade extraordinária de imaginação. Sei também que há essa hora tentas imaginar qual seria o nome dela. Maria, Teresa, Madalena, Rita. Isso não importa! Mas se queres saber, acalma-te que já te digo seu nome. Só peço mais um tempo a ti. Acalma-te!
                Agora que já te deixei a par dos acontecimentos dessa maravilhosa noite, prossigamos então. O que era paixão tornou-se o mais puro e verdadeiro amor. A mistura de sentimentos fazia-nos implacáveis. O Releillon ao lado dela foi um dos melhores da minha vida, a festa foi excepcional. Não há nada melhor do que ficar perto dos amigos e da mulher amada na virada do ano. Três, dois, um – “Feliz ano novo!” Todos gritaram de uma única vez. Os fogos começaram a estourar e todos se abraçaram. Segurei-a bem forte e beijei-a. “Feliz ano novo pra nós, meu amor” Disse eu. Tudo foi muito lindo. Estávamos a primeiro de janeiro de um novo ano. E começou a festa. Muita música, muita comida, muita gente, muito amor! O que eu não sabia era que com o novo ano viria a informação que ela iria embora, e nós só nos veríamos esporadicamente. Aconteceu. Ela foi embora. Ficamos alguns dias sem nos falar, mas logo arranjei um jeito de ligar para ela. Ela ficou radiante. Com a distância, veio também uma friagem no relacionamento. Apareceram as más línguas. Pessoas para enegrecer nosso amor. Tentativas em vão. Superamos. Encontrávamos muito pouco, mas aproveitávamos cada instante. Eu ia até ela. Éramos felizes. Éramos muito felizes!
                Victória. Esse era seu nome. Victória. Leitor amigo, que me acompanha desde o início desta narração. Não era Maria, Teresa, Madalena nem Rita. Era Victória.  Linda, meiga e graciosa. A volta Dela para mim foi de uma alegria grandiosa. Agora já podíamos nos encontrar sempre que quiséssemos. Segunda, terça, qualquer dia. Ela voltou pra mim.  Agora minha felicidade estava completa. Ela estava comigo. Era só minha. Nosso amor despertou ciúmes e inveja em muitos. Pessoas más amadas não nos queriam felizes. Victória e eu por muitas vezes Chegamos a discutir, coisas que não fizemos em anos. Tínhamos três anos juntos e o amor ainda era muito grande. Pensávamos em nos casar um dia e ter filhos. Eu tinha meus 19 anos completos, mas ainda mal vividos. Queria saber mais sobre o mundo. Enfim, viajamos. Passamos um lindo fim de semana na praia. Corremos na areia branca da praia, subimos nas árvores que encontramos no caminho, foi um longo momento de descontração. Voltamos para casa no domingo à noite, tomamos banho e saímos. Fui deixá-la em casa. No caminho, veio-me uma imensa vontade de não separar-me dela. Era mais forte que eu. Padeci e pedi-lhe que não fosse embora, mas de nada valeu. Ela tinha de ir. Tudo bem, eu a veria no próximo fim de semana. Tive que me contentar em ficar sozinho. Tudo bem, a vida tem dessas coisas! Logo o outro fim de semana chegaria e nós nos veríamos novamente. “Nossa! Que alívio: amanha já é sábado!”, pensava eu. Às vezes, eu mal acordava e ela estava lá. Sonho? Não. Era ela realmente. Tinha ido me ver, mas não podia demorar muito, pois tinha o dia cheio. Tudo bem, eu a veria à noite mesmo. Ela me dava um beijo e partia.
                Mais tarde, no nosso encontro, que era na casa de sua tia Joaquina. Tia essa que era a protetora do nosso amor e guardadora ímpar dos nossos encontros às escondidas Victória estava lá. Maravilhosa, vitoriosa como seu próprio nome já diz. A casa ficava em um local ao longe; era simples, porém aconchegante. Tinha uma pedra onde sentávamos para namorar e conversar e ao lado da pedra um coqueiral alto e lindo. Próximo ao coqueiral tinha um poço e uma mangueira de frutos deliciosos, adocicados. No terraço uma cadeira de balanço que nós aproveitávamos para ficarmos mais próximos no frio da noite. Joaquina era uma senhora bem simpática de meia idade e trazia consigo a dor da luta pela vida e era uma batalhadora sem medo de enfrentar os seus problemas. Era de estatura baixa, olhos e cabelos pretos como a noite e mãos grossas pelo trabalho. Ela nos deu muita força em alguns momentos. Entre as adversidades estava a não aprovação do nosso amor pela sua mãe Creusa e sua Irma Lucíola. Lucíola era uma jovem bonita, mas descontrolada, tinha várias mudanças de comportamento durante o dia. Era esquizofrênica e tinha hipertensão desde muito jovem, sua mãe, louca e, não menos que a sua filha também não batia muito bem do juízo, gritava bastante às vezes, mas no fundo, me dava um pouco de pena delas. Que família, heim, meu leitor companheiro? Às vezes me pergunto como a Victória conseguiu sair sã do meio dessa família. Agora que já tens conhecimento das raízes da Victória podes continuar a ler-me.  A mim, parece que o destino quis provar o limite do nosso amor. Surge uma viagem inesperada para cuidar de sua tia-avó no Sul do país. Ela tem de ir. Viajou contra minha vontade, mas eu sabia da necessidade dela ir. Eu sabia que era contra sua vontade deixar-me. Ficamos distantes por um tempo tão curto e tão longo. As noites minhas ficaram tão vazias sem ela e quase não terminavam, os dias, esses foram gigantes dias de tristeza, um mar de melancolia. E passaram-se meses e meses. Falávamos-nos pelo telefone, mas certo dia, quando já não esperava mais nada desse relacionamento ela reaparece. Voltou, leitor. Ela voltou. E o que parecia morto ressuscitou. A chama da paixão reacendeu. Parece-me que após seu retorno nosso amor se tornou mais forte, bem mais forte, as situações adversas continuavam, mas que importa isso agora? Nada. Agora já era eu um homem e ela feita mulher por mim. Éramos um do outro! Não tinha como escapar. Tinha de ser assim! E entregamo-nos mais uma vez a este sentimento mágico, belo, Perigoso. Lutávamos para casarmos. Ali. Lado a lado. Dia após dia. Casaríamos em breve. Agora já são cinco anos passados desde que nos conhecemos. Cinco anos de tristezas e alegrias compartilhadas. Fortes emoções. O que dizes companheiro leitor? O que me intriga é não saber até hoje o motivo de sua morte. O amor e a morte andam em conjunto, leitor? Também não interessa os pormenores de sua morte, pois aqui não é a morte a protagonista, mas sim o amor entre Victória e eu. Amor esse que transcenderá o limite da vida. Sempre te amarei, Victória!


                                                                                                   (Assis, Sérgio. Contos do coração)

2 comentários:

  1. Nossa amei Serginho, mt boum e ainda descobrir certas semelhanças entre um conto meu, "memórias". Muito boum. Logo mais irei ler o resto. Beijoo saudades :/

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  2. Sergio amigão é lindo realmente tem amor que a gente nunca esquece adorei parabéns!!!
    Saiba que estamos do outro lado do oceano porém nossos corações e penssamentos sempre estarão interligados vc é muito especial e merece td que estar vivendo estamos aqui na torcida que Deus te abencoi e te proteja sempre nós te adoramos d++++
    josy e marinho♥

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